João Moura Jr. proclamado Rei e Senhor da Ilha Terceira
Num mundo onde a coragem é medida em silêncio… e a glória escreve-se com sangue e arte, há tardes que não são apenas corridas, são páginas da história da tauromaquia. Hoje foi uma delas… João Moura Jr. voltou a escrever mais uma página de glória na sua carreira. A comunhão do João com Angra é longa, aqui parece que se agiganta! Aqui parece que toureia de alma aberta, aqui parece que sente mais a arte que leva dentro. E quando se sente… meus amigos surge a magia desta arte tão fabulosa que é o toureio. O João transformou a arena num templo de arte, silêncio e raça. Ousou onde outros hesitam. Fez do cavalo uma extensão da sua alma. Hoje na arena houve um homem que se vestiu de luz e sonho para se entregar, só, ao mais puro dos desafios: enfrentar seis toiros, num único abraço com a verdade!
A tarde também tinha outra página de história para ser escrita… a despedida de João Pedro Ávila cabo do grupo de forcados Amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense que entregou a chefia do Grupo a Bernardo Belerique. Foi a despedida de um homem que deu muito da sua vida ao forcado amador. Anos de entrega, de noites mal dormidas, de lágrimas escondidas e de abraços apertados no regresso da cara dos toiros. Foram pegas, toiros, viagens, amizades forjadas no calor da arena e no frio do pátio das dúvidas. Obrigado João!
Esta tarde de 22 de Junho ainda tinha mais um acontecimento… Um concurso de ganadarias… em que três ganadarias da Ilha Terceira, Rego Botelho, José Albino Fernandes e João Gaspar… resultado de tudo isto um cartel de “Não há Bilhetes “ colocado 24 horas antes!
Dos seis toiros a concurso o primeiro foi uma estampa de Rego Botelho, “Colorado” de capa, composto de cara… uma beleza de toiro bravo. Teve classe, nobreza, recorrido e mobilidade… mas uma tendência para tábuas… Bom toiro!
Em segundo lugar saiu um toiro de José Albino Fernandes, um taco… castanho de capa. Teve a genialidade dos bravos mas a força não o acompanhou!
O terceiro era de João Gaspar, toiro rematado, com cara, negro de capa! Teve mobilidade, emoção, nobreza. Bravo!
Mais basto de tipo foi o quarto da tarde, tinha o ferro de Rego Botelho. O mais reservado dos seis a concurso, faltou-lhe alguma entrega e veio a menos.
Em quinto lugar um Albino Fernandes que tinha gatos dentro da barriga… toiro impulsivo… com muitas teclas que tocar. Interessante de comportamento!
Fechou a tarde uma lâmina de “lá lidia”! Um toiro capirote, calçado, rabicano, olhalado em castanho… com cara… lindo! Foi encastado, pediu contas e proporcionou o triunfo do cavaleiro.
Viveu-se nas lides a cavalo uma tarde que ficará gravada na memória dos aficionados como um hino à arte de bem tourear e à paixão. Seis toiros para João Moura Jr., seis desafios lançados à história e à própria alma do toureio.
No primeiro toiro, e na primeira lide ficou claro: que esta não seria mais uma corrida... de João Moura Jr! O Rego Botelho encontrou um Moura sereno, absoluto, a marcar o temple logo no início. Uma brega ajustada, os ferros ao estribo, a emoção contida — foi o prólogo ideal para a tarde histórica… Sentir, sonhar, mandar, lidar, cravar de verdade e rematar com arte. Foi uma lide de afirmação de uma figura ímpar do toureio a cavalo.
No segundo, veio o génio criador. Houve a ligação perfeita entre cavalo, toiro e cavaleiro. A praça rendeu-se a uma actuação na qual o triunfo parecia impossível… o João com a serenidade dos imortais e a precisão de um mestre, deu uma autêntica lição de toureio… não apenas enfrentou o toiro, mas também o educou com suavidade a saber acometer ao cavalo e saber equilibrar as suas parcas forças… ali houve inteligência e arte. Se a primeira lide tinha sido importante esta foi crucial para a apoteose vivida depois!
O terceiro exigiu-lhe cabeça fria e coração quente. Foi toiro encastado e bravo! João respondeu com o que só os grandes têm: sabedoria e verdade. Nada houve apressado! Nada exagerado! Tudo no tempo certo, nos terrenos exatos, na distância justa! Moura Jr foi a figura ereta, o olhar firme, a elegância de quem não precisa provar nada mas ao mesmo tempo reafirmar tudo. Porque o João já fez história e é história. O segundo curto desta lide não foi apenas um ferro genial... Foi uma assinatura. Um carimbo de gênio. Todos os presentes trememos com o que assistimos naquela arena negra de Angra… E a Mourina de remate? O conclave simplesmente aclamou o visto na arena… já agora o remate foi soberbo!
No quarto, apareceu o pragmatismo diante a dificuldade do seu oponente. A lide foi de pura de emoção — silêncio respeitoso na praça, ferros de grande risco em terrenos apertados… tapando as dificuldades apresentadas pelo toiro que teve por diante, remates de categoria.
O quinto trouxe o João avassalador. O toiro duro e imprevisível exigiu tudo e o filho do génio de Monforte respondeu com tudo. Houve momentos fantásticos nesta actuação, recebeu o toiro nas porta dos curros, para o levar embebido nas sedas dos cavalo, cravou os compridos a abrir caminhos ao oponente. Nos curtos a genialidade esteve sempre presente ao cravar e nos remates em ladeio toureiros. Finalizou com uma mourina extraordinária em terrenos de compromisso com o toiro a vir forte e a querer comer tudo e todos. O público de pé e as palmas ecoaram como num templo.
E no sexto… a apoteose! Uma lide completa. Ligação, ritmo, valor, classe. A série de ferros curtos ficará gravada na memória dos que tiveram a sorte de a ver e os remates foram verdadeiros hinos ao bom toureio. O João sorria e ao mesmo tempo um par de lágrimas surgiram… A praça explodia. A despedida perfeita de uma tarde inesquecível. Na volta a arena foi decidido pelo público, Tertúlia Tauromáquica Terceirense e direção de corrida levar a ombros o herói desta tarde, e entre gritos de toureiro, toureiro, foi sacado o João da Monumental da Ilha Terceira pela Porta Grande!
Tarde grande de pegas, onde a alma, o peito e o grupo se fundem numa só emoção. O heroísmo e a verdade da pega estiveram em cada passo, cada cite, cada reunião, em cada ajuda. Tarde de triunfo para os Amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense.
Abriu a tarde João Vieira, numa pega tecnicamente perfeita. Bonito a citar, mandar e a receber a investida do toiro. Coeso o grupo a ajudar.
João Pedro Ávila saltou a arena para se despedir e pegar o segundo toiro desta corrida. Pega cheia de sentimento, alma, coração, raça e valor. No fim da sua última volta a arena como cabo chamou Bernardo Belerique par lhe passar o comando do grupo e lhe entregar a jaqueta das ramagens. A emoção invadiu os presentes e sobre forte ovação deu mais uma volta ao ruedo.
Bernardo Belerique pegou o terceiro da tarde, superior a citar, recuar, mandar, receber para se fechar como um lapa no toiro. Tudo bem feito! Sorte Bernardo para este teu novo desafio como cabo deste grupo.
Francisco Matos fez um pegão á segunda tentativa, toiro duro, a derrotar forte e por cima, a fugir ao grupo. O Tomás aguentou barbaridade mas a pega foi consumada e o Tomás foi aclamado pelo seu publico em júbilo.
Para a pega do quinto da tarde foi escolhido João Bettencourt, que consumou um bonita e valente pega á primeira tentativa.
Fechou a tarde Carlos Vieira também num pega vibrante e cheia de alma á primeira tentativa. O grupo ajudou de forma coesa toda a tarde.
No fim da corrida reuniram os jurados, um representante de cada ganadaria e decidiram da seguinte forma:
Prémio de Apresentação ao toiro N. 16 de nome Poeta ,da ganadaria de João Gaspar. Prémio entregue pelo séquito real das Sanjoaninas.
Prémio de Bravura ao toiro N.16 de nome Poeta, da ganadaria de João Gaspar. Prémio entregue pelo excelentíssimo senhor presidente da Câmara de Angra do Heroísmo.
Dirigiu a corrida Ricardo Costa, sendo o médico veterinário Vielmino Ventura.
26/06/2025 23:42