Navegação
Total de Visitas desde 2011:  2849237

Forcados Amadores de Lisboa e amigos na Herdade de Místicas

Almoço de final de temporada

Tauromaquia(s) e Património(s): Cultura de Arte e Afectos

 

Tauromaquia(s) e Património(s): Cultura de Arte e Afectos

Em noite fria de Outono (8/11), o espaço do Clube Taurino, em Vila Franca, foi pouco para o calor apaixonado dos que falaram e ouviram falar da Tauromaquia como património, como “cultura de afectos e paixões”, que “ou se gosta ou não se gosta”.

Convidados pelo Clube Taurino, e com a colaboração da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, para falar sobre “Tauromaquia, Património Mundial”, fizeram o paseíllo, Maria da Luz Rosinha (Presidente do Município Vilafranquense), Aníbal Mendes (em representação do Presidente da Secção de Municípios com a Actividade Taurina - SMATe da Câmara Municipal de Coruche, Dionísio Mendes), MathieuSodore(aficionado, pintor e professor de artes plásticas no liceu francês), Elísio Summavielle(aficionado, ex-Director  Geral do Património Cultural e ex-Secretário de Estado) e Victor Escudero (historiador e afamado crítico taurino).

Aníbal Mendes, técnico responsável do Núcleo Tauromáquico de Coruche, focou a sua expressão nas mudanças de paradigma da base da festa: a mudança do contexto agrícola, a desestruturação do montado e a criação do toiro de lide, por oposição a, cada vez mais, se ver ampliar as paixões pró e anti-taurinas, como expressão de que a Tauromaquia sendo sinal cultural, pode ter a sua base ameaçada, mas tem a focalização intensa dos intervenientes. Considerou, por isso, que os agentes políticos, seja a Câmara de Coruche ou outra, não podem nem serão indiferentes à afirmação da Cultura Taurina como Património, uma vez que já não o são face àquela actividade.

Elísio Summavielle falou da sua experiência pessoal como político, aficionado e homem de cultura, salientando aspectos que se prendem com a tecnicidade da análise de uma candidatura a património imaterial, bem como a vontade política taurina ou anti-taurina que hasteia ou arreia bandeiras. Falou de como a Festa sendo Cultura está, como outras variantes culturais, desinvestida, fazendo sobressair que o turismo cultural é hoje uma fonte de rendimento e de ampliação das economias nacionais. Salientou o facto da necessidade de perceber a transversalidade ibérica e francesa das tradições taurinas e de congregar esforços de uma candidatura comum, mostrando a necessidade de evidenciar que a conservação de um património depende, em grande medida, da percepção que aquele património, com as suas variantes e especificidades, pode perigar e desaparecer.

MathieuSodore, na qualidade de artista plástico, também de cariz taurino, afirmou que, mais que apostar da candidatura pela ameaça da eventual extinção, independentemente das mudanças circunstanciais e culturais da defesa da festa, é apostar no facto de que “a Festa está viva, é arte e é cultura”. Pela sua origem, deu testemunho sobre as acções políticas da França, onde, independentemente da conceptualização política,  se definiu, sem dramatismos a Festa como Património Nacional.

Victor Escudero, depois de narrar sumariamente uma história simbólica, geográfica e ritualizada da Tauromaquia, referiu-se às diversas visões, expressões e interpretações do fenómeno tauromáquico, pelo que arguiu que falamos de Tauromaquias e não apenas de uma tauromaquia, de Culturas enão apenas cultura e de vários Patrimónios que, sendo transversais a vários países, representam um fenómeno identitário comum, que se adquire por contacto, por afeição e por pedagogia, pelo que – disse – “não é possível fazer um anti-taurino ser taurino, mas é possível ser firme e salientar o que sentimos como nosso, como cultura de afectos”. Expressou ainda que a afición, cria-se também independentemente das escolas de toureio conseguirem grande estrelas, mas que elas são um bom exemplo de como se criam aficionados.

Falaram ainda, entre outros, ganadeiro Jorge Carvalho referindo-se ao fenómeno de campo, à manutenção do toiro de lide e as constantes pregações do centro da festa que é o toiro, bem como José Manuel Rainho, que depois de traçar algumas notas sobre o carácter de afición e dos afectos da membros da escola, relevou a escola como contexto de incremento social, de formação cívica dos seus participantes, não apenas numapedagogia de afición,mas numa intervenção que pode dar matadores mas dá homens de personalidade convicta.

Maria da Luz Rosinha, que apresentara os intervenientes e fizera a ligação dos várias intervenções, explicitou o percurso feito não apenas pelo Município de Vila Franca de Xira, e no contexto da SMAT, mas da percepção arreigada que, à medida que se congrega informação, que se investiga e se prevê o processo de candidatura, mais as pessoas sentem que o que vivem é importante e tem um carácter patrimonial, que não é apenas de cada um, do bairrismo local, mas um “património imaterial, porque é das pessoas” e património mundial, “porque não se confina, desde logo, a uma mentalidade, vivência ou terra.”

Ao fim de duas horas de animada e substancial colóquio, Paulo Silva, em nome do clube Taurino a que preside deu por encerrada a lide da noite…

David Silva

Forcados Amadores de Lisboa e amigos na Herdade de Místicas

Almoço de final de temporada