Navegação
Total de Visitas desde 2011:  2850132

El Soro vai estrear este ano na Maestranza… como trompetista!

Valdemorillo sem feira taurina 2021

Ganadero Sr.Joaquim Grave no jornal "Observador" - "Bem-estar Animal vs Corridas de Toiros" (parte 1)

Ganadero Sr.Joaquim Grave no jornal "Observador" - "Bem-estar Animal vs Corridas de Toiros"  (parte 1)

Bem-estar Animal vs Corridas de Toiros

Parece-me um acto de terrorismo cultural, um Chernobyl intelectual do século XXI, tentar proibir uma das poucas obras de arte que o homem cria com um animal e que apaixona tantas multidões.

Em defesa dos valores humanistas que me norteiam e defendo, gostaria de abordar de uma maneira séria o que é o “bem-estar animal”.


O bem-estar animal pode e deve ser definido de um modo científico, pondo de parte envolvimentos e considerações morais. O bem-estar animal é um estado de completa saúde mental e física, onde o animal está em perfeita harmonia com o meio ambiente que o rodeia.
Os animais não têm direitos – só tem direitos quem tem deveres. E está claro que os animais não têm deveres. Mas isto não quer dizer que o homem não tenha deveres para com os animais. Claro que tem e quais são esses deveres? Resumidamente, existem três classes de animais: primeiro, os animais de companhia, aos quais devemos afecto, carinho, amor se se quiser; segundo, os animais domésticos, aos quais devemos proporcionar boas condições de vida para que eles nos possam dar a carne, leite, ovos, lã, etc.; e, terceiro, os animais selvagens, os quais temos o dever de defender, mantendo os ecossistemas onde vivem para que não desapareçam. Estes são os deveres que nós temos para com os animais.

Toda a ética da corrida (tourada) repousa sobre a ideia da bravura do toiro e a sua legitimidade intelectual, deve ser analisada à luz de uma simples questão: o que é o toiro bravo? É como que uma quarta categoria de animal, porque não encaixa em nenhuma das outras; o toiro bravo não é nem uma coisa, nem uma pessoa, nem um animal doméstico, nem um animal selvagem, é um ser essencialmente bravo.

Estudos científicos confirmaram que este animal, particularmente adaptado para a lide, tem reacções hormonais únicas no mundo animal perante a dor (que lhe permitem anestesiá-lo quase no mesmo momento que se produz), especialmente devido à segregação de uma grande quantidade de beta-endorfinas (opiáceo endógeno). Outra descoberta, que demonstra a singularidade do toiro de lide em relação às outras raças de bovinos, é o tamanho do hipotálamo que é 20% maior que o dos outros bovinos – dado considerável.

Isto explica as causas fisiológicas de um comportamento que torna possível a lide: os aficionados não são indiferentes ao sofrimento do toiro bravo nem de qualquer outro animal. A questão é que eles consideram que a insensibilidade do toiro é a condição que possibilita o seu combate.

Significa que este animal põe o valor intrínseco do seu combate por cima da sua própria dor – e é exactamente isto que o define como bravo.

Além disso, a dor é inevitável, o sofrimento opcional (Buda dixit). E reparem que digo dor e não sofrimento. O sofrimento implica zonas do organismo mais complexas e profundas. No animal não há uma consciência reflexiva que, a existir, aumentaria sem dúvida, o seu desconforto.

Formalmente, o animal não existe, o animal em geral, não existe. Não existe, pois, ética face ao animal em geral. O que existe são espécies de seres vivos. Existem vírus, mosquitos, cães, toiros, homens, etc. Daqui resulta uma moral, uma ética tauromáquica, uma ética aristotélica que é a seguinte: para cada ser, o seu bem supremo pode não ser um estado passivo, pode residir numa actividade pela qual cada ser actualiza as suas potencialidades, pela qual realiza activamente a sua própria essência. É exactamente o que faz o toiro: sendo um ser por natureza bravo, lutador, realiza o seu grande bem lutando e realiza-se plenamente na corrida e pela corrida.

As corridas não teriam nenhum sentido sem a luta do toiro. Ninguém lhe passa pela cabeça organizar uma corrida de toiros com outro animal que não seja da raça brava. Quando o detractor da corrida vê (ou imagina) uma corrida, ele vê um animal sofrendo, ele assiste a um drama patético: os homens divertem-se martirizando um animal. Pelo contrário, quando um aficionado assiste a uma corrida, ele vê um toiro que combate. O toiro não é, para ele, um ser que sofre, mas um ser que naturalmente luta. Aliás, os animalistas, que são tão lestos a pôr os animais a sofrer, deveriam usar a mesma ligeireza e pô-los a falar; perguntar aos toiros (bovinos) o que preferiam: viver 15 ou 16 meses num parque de engorda intensiva com farinhas e depois serem abatidos, ou viverem 4 ou 5 anos em liberdade em sistema extensivo, alimentando-se de pastagem natural a maioria do tempo de vida, e terem a oportunidade de manifestar toda a sua animalidade para serem combatidos numa arena durante 20 minutos.

Francis Wolff é particularmente feliz quando afirma: “Sem dúvida que o toiro não quer combater, mas não porque seja contrário à sua natureza lutar (tudo o contrário!), mas porque o que é contrário à sua natureza é o querer!”. Aliás, a falácia usada pelos animalistas que dizem que o toiro só investe porque está circunscrito a uma arena fechada, reflecte mais uma vez a total ignorância sobre a natureza deste animal: se toureado em campo aberto, onde tem todo o campo do mundo para fugir, ele continua a investir; comporta-se exactamente da mesma forma que o faz na arena.

Parece-me um acto de terrorismo cultural, um Chernobyl intelectual do século XXI, tentar proibir uma das poucas obras de arte que o homem cria com um animal e que apaixona tantas multidões. Não existe, nem existirá uma directriz universal, absoluta, verdadeira e inquestionável sobre o que está bem ou mal.

Sem dúvida que a corrida de toiros não é moderna, não porque não seja do nosso tempo; é ao contrário: é porque o nosso tempo não está já na “modernidade”.

A modernidade, no sentido estrito, acabou no final dos anos oitenta do século passado, com a queda das ideologias. Lembram-se? Foi no princípio dos anos 90 que a palavra qualidade começou a substituir a palavra quantidade.

O que alguns começaram a chamar de “pós-modernidade”, ou contemporâneo, opõe-se ponto por ponto à modernidade. Pode ser que a corrida de toiros não seja, nem nunca tenha sido “moderna”, mas seguramente encaixa perfeitamente no “contemporâneo”. O moderno está ligado ao progresso ”velocidade”, à industrialização sistemática (onde se inclui a produção de carne intensiva); o contemporâneo e a corrida de toiros estão ligados à biodiversidade, à ganadaria extensiva de bravo, ao equilíbrio dos ecossistemas.

A tauromaquia continua a existir pelas suas capacidades de adaptar-se ao contemporâneo ou pós-moderno. É uma arte de sensibilidade e enquanto não houver dissonância entre as emoções que gera, o espectáculo taurino e as emoções da nossa época, nada nem ninguém poderá actuar com eficácia contra a Festa dos Toiros. Por isso, a tauromaquia está condenada à pós-modernidade ou contemporâneo. Na verdade, por trás da Festa existe todo um culto amoroso e delicado em que o toiro é rei.

Além disso, a pegada ecológica do toiro bravo, ao exigir poucos recursos em extensões grandes, multiplica a biocapacidade das propriedades, isto é, dos seus recursos ecológicos disponíveis. A maioria das explorações intensivas tem défice ecológico (consomem mais recursos do que produzem), enquanto que o montado tem um superávite ecológico que ainda nem se quantificou.

Publicado no Jornal Observador

11  outubro  2020



El Soro vai estrear este ano na Maestranza… como trompetista!

Valdemorillo sem feira taurina 2021