Opinião Rui Casqueiro Haderer : Que temporada taurina aí vem?
Foi no passado dia 1 do mês de fevereiro que se iniciou a temporada de 2018. Dia aziago para a tauromaquia lusa, em particular para a forcadagem que, nesse dia, perdeu dois dos seus mais notáveis expoentes. À mesma hora que em Mourão se rompia praça para o primeiro festival taurino da III Feira Taurina de Nossa Senhora das Candeias, falecia João Nunes Patinhas, cabo fundador dos Amadores de Évora e um verdadeiro Senhor e aficionado.
De regresso a casa, vindo de Mourão, perdeu a vida num brutal acidente de viação António Manuel Cardoso "Néné" antigo cabo dos Amadores de Alcochete, apoderado de toureiros e empresário das Praças de Évora e de Alcochete.
No entanto, nem estes infortúnios nem as adversas condições climatéricas fizeram arrefecer a afición que encheu a bem cuidada praça desta vila raiana, manifestando assim quão penoso foi suportar o defeso.
Posto isto, que será que nos reserva a temporada agora iniciada? Será que vai ser melhor que a anterior? É esse, seguramente o desejo de todos os aficionados, mas para que tal se verifique há que conjugar vontades e acções nesse sentido.
Sou daqueles que entendem que a cultura não se faz e menos se desfaz, por decreto, pelo que não serão os insistentes e cobardes ataques dos anti-taurinos que porão em risco uma tradição profundamente enraizada no sentir da Nação Lusa. A tauromaquia terá o seu fim, isso sim, no dia em que o público deixe de acorrer às Praças.
Há pois que, tudo fazer para que jamais tal seja possível.
São no entanto os intervenientes no “mundillo” taurino os principais responsáveis por defender a “Festa” dos seus detractores.
Tal desiderato só será conseguido credibilizando e dignificando o espectáculo e restituindo-lhe a emoção que muitas vezes lhe vai faltando. Não pode o espectador na bancada pensar “isto é fácil, também sou capaz de fazer”.
Cabe pois aos toureiros superarem-se em cada lide, em cada faena. Aos forcados, ex-libris da nossa Festa, que não falte o arrojo e a galhardia. Aos ganadeiros que se apurem em cada dia que passa em conseguir que a sua divisa seja a primeira entre iguais, para que saiam às praças toiros com idade, peso e trapio, mas também com transmissão, com classe, com codícia e “fijeza” e já agora com nobreza e com duração.
Como disse o maestro António Ordoñez “se pára o toiro pára a Festa”.
Quem sou eu para duvidar!
E as empresas? Como é fundamental o papel das empresas na montagem de bons cartéis, nas datas tradicionais, bem promovidos e com preços adequados à categoria da Praça mas também, ao cartel que se anuncia.
O que será preferível? Ter um quarto de Praça com bilhetes a €30 ou €40 ou a casa cheia com bilhetes a €10 ou €15?
Bem sei que a lotação da Praça é aqui um factor determinante mas, nem por isso acho que esta questão não deva ser alvo de ponderação pelas Empresas.
Tem aqui particular relevo o papel das entidades proprietárias dos tauródromos – em regra Misericórdias e Autarquias. Devem ter em atenção a capacidade e credibilidade dos putativos arrendatários, que devem, contratualmente, ser obrigados ao cumprimento de um caderno de encargos que tenha em conta o número e a qualidade dos espectáculos propostos e não apenas a quantia que oferecem pela exploração da Praça.
Mas, por outro lado devem as entidades proprietárias ser realistas quanto ao valor base dos concursos para a exploração das suas Praças, defendendo assim, afinal, o êxito do negócio para ambas as partes.
Também os prazos dos arrendamentos devem ser o mais longos possível. Convínhamos que não é fácil estruturar e investir num negócio apenas com a expectativa de um ano ou dois de exploração.
A Comunicação Social pode e deve ser um veículo privilegiado de promoção da Festa e divulgação da crítica que, desejavelmente, deverá ser isenta e pedagógica.
Não me parece curial que se diga que está mal sem se dizer como estaria bem e julgo de todo errado que se procure ser agradável e “politicamente correcto” e se limite a análise a afirmações do tipo “esteve correcto” ou “andou regular”.
Só assim será possível que o público não falte nas bancadas. Os aficionados, que vão à Praça e pagam os seus bilhetes, são o suporte sociológico e económico da Festa de Toiros e, parece-me desejável, que todos os seus intervenientes tenham isso em mente.
Mas não temos também nós, aficionados, obrigações para com a tauromaquia? Claro que sim!
Isto é particularmente verdade quanto às Tertúlias, grupos e clubes taurinos, já que representam uma afición organizada, mais informada e talvez, mais esclarecida.
Cabe-nos a nós passar a mensagem às actuais e às novas gerações, alargando a base social de apoio à tauromaquia, esclarecer, ensinar, respeitar, criticar e premiar.
É nossa obrigação defender intransigentemente a tauromaquia em todas as suas vertentes, os seus princípios e os seus valores.
No ano transacto, foi possível à Associação de Tertúlias Tauromáquicas de Portugal, com o apoio da Prótoiro, de que aliás é parte integrante, obter ganho de causa quanto à execução de um projecto que, no âmbito do Orçamento Participativo Português, visa classificar, junto da UNESCO, a tauromaquia como Património Cultural Imaterial de Portugal.
Mas agora há que concretizar o projecto e para isso, havemos de contar com todos os intervenientes no meio taurino nacional. Sem divisões, sem “capelinhas”, sem desconfianças ou más vontades.
Dessa forma, a tauromaquia sairá triunfante e preservada de futuros ataques dos seus inimigos e com ela, todos nós triunfaremos também. Aqueles que têm a sua vida profissional ligada ao toiro e os outros que, sem valor que lhes permita pisar as arenas, sentem uma imensa divida de gratidão por quem lhes proporciona a mais bela das artes.
Que a temporada de 2018 nos traga belos e bravos toiros, grandes lides, fantásticas faenas e gloriosas pegas em Praças de Toiros com lotações esgotadas.
Cabe a todos nós fazer por isso.