Toureiros aplaudem passodoble e fado nas touradas
Colóquio com Mário Coelho e António
Telles em Samora Correia
As bandas de música fazem parte da festa
dos touros desde 1920 e são uma mais valia nas corridas em qualquer praça. Esta
foi uma das conclusões do colóquio que reuniu em Samora Correia os prestigiados
maestros Mário Coelho e António Palha Ribeiro Telles na tarde de sábado, 23 de
janeiro.
No painel de oradores, o jovem cavaleiro
Manuel Telles Bastos, que encantou com a sua simplicidade e boa disposição, o
delegado da Inspeção Geral das Atividades Culturais Ricardo Pereira, o
compositor de Passodoble e músico António Labreca e o fadista Rodrigo Pereira.
A voz dos Marialvas cantou dois fados acompanhado da banda da Sociedade Filarmónica
União Samorense (SFUS), num ambiente de grande afición e perante um salão nobre
da SFUS com mais de 150 aficionados.
Mário Coelho, toureiro com 60 anos de
carreira e um dos melhores bandarilheiros do mundo, enalteceu o trabalho das
bandas de música nas corridas e manifestou enorme consideração pelos
compositores que fazem passodobles com alma, citando o exemplo da composição
produzida por Maurício do Vale em sua homenagem.
O matador de touros de Vila Franca de
Xira recordou que foi o último toureiro a ouvir a banda tocar na Monumental de
Las Ventas em Madrid após um magistral par de bandarilhas. Desde então não mais
houve passodoble durante as lides em Las Ventas.
O fadista Rodrigo Pereira, antigo
forcado e um aficionado de corpo inteiro, defende que na lide a pé não deve
haver música ”Gosto de ouvir o artista a falar com o touro e ouvir as reações.
Preciso de silêncio na praça”, disse. Mário Coelho não vê inconveniente em
lidar ao som de um passodoble com alma, necessariamente diferente dos ritmos
que podem acompanhar a lide a cavalo.
Manuel Telles Bastos e António Telles
revelaram que a música durante a lide é um incentivo para o toureiro e para o
cavalo. Os toureiros da Tourinha, habituaram-se a treinar os cavalos com música
ambiente “e quando não havia música eram os vizinhos e amigos ciganos que
cantavam para descontrair os cavalos e cavaleiros”, recorda com alegria o jovem
neto de Mestre David Ribeiro Telles.
Lembro-me no Picadeiro do Mestre Nuno de
Oliveira, ele colocava música clássica para descontrair os cavalos e eles
adoravam aquilo”, acrescenta o Maestro António Telles.
O cavaleiro de Vila Franca emocionou-se
com o passodoble com o seu nome, da autoria de António Labreca, interpretado ao
vivo pela banda da SFUS com grande mestria e um solo impressionante do
trompetista Francisco Marques “Chuiquinho”.
Sobre eventuais exageros na utilização
da música em lides que ainda não mereceram, Rodrigo Pereira defendeu que as
bandas filarmónicas devem tocar sempre que o público peça. “O Público é que
manda, é ele que paga o espetáculo”, referiu. Sobre o fado nas corridas de
touros, Rodrigo Pereira considera que em alguns períodos da corrida, pode ser
um complemento de valorização do espectáculo, mas nunca durante a lide. “Na volta
à arena, no intervalo, já tenho cantado fado e penso que resulta bem”.
Para o diretor de corrida nem sempre é
fácil decidir quando manda tocar a banda ou silencia os acordes. Ricardo
Pereira, que dirige corridas nas principais praças, defende que conhecer os
artistas, a banda e o público facilita a decisão. “Não há toureiros iguais, nem
praças iguais, cada uma tem o seu tipo de público e vive a festa de uma maneira
diferente”, considerou.
Todos os presentes concluíram que é
importante reduzir ainda mais os tempos das corridas, eliminando rituais
injustificados e apelando ao bom senso dos toureiros.” Vi um cavaleiro que
colocava um ferro e dava quatro voltas à arena, não é bonito”, disse Mário
Coelho que foi muito crítico em relação à organização das corridas em Portugal.
“Sou um aficionado com 60 anos de carreira, mas evito assistir a algumas
corridas. É mau demais. Não há respeito pelo público”, concluiu.
> No final do colóquio, que nasceu numa ideia do aficionado samorense
António Relvado, todos os intervenientes elogiaram a cultura tauromáquica que
se vive em Samora Correia. Os artistas saíram pela Porta Grande com a promessa
da SFUS continuar a promover conversas e outras iniciativas sobre a festa dos
touros. A coletividade manifestou interesse em receber a exposição evocativa
dos 60 anos de carreira do Maestro Mário Coelho que esteve recentemente em Vila
Franca de Xira.
Nelson Lopes